sábado, 24 de outubro de 2015

O Aborto

Faz uns dias que este texto está atravancado na minha goela e dedos, acho até que por isso não tenho conseguido dormir direito.
E desta vez o texto vem pra cá e não para o blog onde eu assino com o meu pseudônimo.

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Todos os dias eu aborto meus sonhos e desejos.
Vejo-me estuprada diariamente pela sociedade machista e patriarcal.
Sinto nojo de pensar nestas leis que tocam e invadem o meu corpo.
A vontade de torturar estes merdas que fazem comentários sexuais com uma menina de 12 anos é grande.

Até quando darão créditos aos bostas que se acham com intelecto acima e fazem piadas com dores?
Até que dia aceitaremos as cantadas, invasões e agressões sociais, patriarcais e machistas?
A dor é contínua.
Dói todos os dias o aborto das minhas filhas.
E não falo daquele que sofri quando perdi um neném e o pai deu graças à deus, falo das que estão aqui, paridas, que o pai troca ausência por dinheiro.
Todos os dias dói o estupro cometido.
E não falo daquele que antecedeu o aborto, falo das filhas que estão aqui, paridas, que vieram para o meu ventre sem a minha permissão, mas o pai delas me achava linda a ponto de tudo bem ter uma filha comigo, mesmo que eu não concordasse.
Agora tudo bem o aborto patriarcal, pq eu já não tenho mais o frescor da juventude, tão pouco fico calada perante os abusos dele.
O histórico familiar de abusos é grande, mas por hoje chega.
Minhas filhas não são mais filhas do abuso, elas são as mulheres que quebram este DNA de abusos.
No meu corpo NÃO MAIS.
No delas, NUNCA!

Chega do silêncio e da vergonha que faz parte da cultura do estupro.
Chega desta cultura machista, patriarcal, preconceituosa e do cala boca e chupa logo.
No meu corpo eu tenho direito.
Das minhas palavras eu tenho o domínio.

O aborto está sendo praticado, acobertado e apoiado a todo momento pela sociedade hipócrita, afinal a mulher que tem que se cuidar, ela é uma otária pq engravidou, e ele pelo menos paga a pensão.
NÃO! NÃO! NÃO!
Eu estava dormindo, pq eu estava bêbada e depois pq eu estava cansada, não tive direito sob o meu corpo.
E quantas outras estavam acordadas e sendo apenas torturadas e manipuladas?
CHEGA!
Não me calo mais, não se calem mais.
Ponham pra fora, porquê a culpa não é sua, não é com você, é com ele.
Tiremos a cultura da vergonha e do estupro e enraizemos a SORORIDADE.
Chega de agressão, abuso e abortos patriarcais acobertados pela sociedade.

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