quarta-feira, 22 de agosto de 2012

A casa

Naquela casa pouco havia, além de paredes brancas e desejo.
O quarto começou a ser composto por apenas um colchão, uma estante de ferro e carinho.
Naquela casa pouco havia, além de paredes brancas e amor.
O outro quarto começou a tomar forma e sons.
Naquela casa pouco havia, além de paredes brancas e uma rede.
A tv era apoiada em sua própria caixa, mas a toalha de renda dava graça.
Naquela casa pouco havia, além de paredes brancas e o cheiro do tempero na hora do almoço,
Que era servido na sala em uma modéstia mesa e uma tábua de passar servia de aparador para as panelas.
Naquela casa pouco havia, além de paredes brancas e amigos.
Que iam para o churrasco, para as risadas...
A casa foi se moldando e virando um lar.
No quarto já tinha cama, e depois de um dia solitário acordava sobressaltada, mas estava apenas sendo acolhida e aconchegada, ás vezes seguia uma declaração de amor eterno.
A casa que não tinha quadros e nem enfeites ganhou uma samambaia, e um aquário com peixes laranja.
Naquela casa, que pouco havia, até a parede branca foi rabiscada.
Naquela casa, que pouco havia foram queimados os sonhos.
Naquela casa que pouco havia e tinha se tornado um lar desmanchou-se, desmoronou.
Naquela casa que pouco havia, hoje não há.
Era uma linda casa, um lar promissor, mas hoje além de queimado os sonhos, foram apagadas as esperanças,
Foi apontado o desejo,
Foi mal-dito o amor,
Foi esquecida a rede,
O tempero ficou insoso.
Naquela casa que pouco havia e hoje não há,
Foram-se os amigos,
Calaram-se as declarações,
Mas ela ainda acorda sobressaltada na madrugada, com a sensação de aconchego,
Logo que percebe o engano adormece repassando o filme do lar, que nada faltava.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

15 de agosto


Sexta-feira, 15 de agosto, de um ano qualquer.
Um sorriso inusitado anunciava que era o mês do cachorro louco, mas o coração saindo pela boca não se fazia entender.
Um capítulo de Isaías, pensamentos voando, uma risada rara e um nome desconhecido.
A noite correu com encantamentos, devaneios, desconfianças, confianças...
Tudo confuso. E o coração? Ah! Este já tinha saído pela boca.
A manhã chegou, o sol, a fome.
Andaram, conversaram, enrolaram-se para ficarem mais tempos juntos.
A durona? Com o coração saindo pela boca.
Em um outro dia se encontraram, conversaram, brincaram e dentre tantas músicas conhecidas aquele nome antes desconhecido, agora tão familiar, dedilhou uma música, inédita, mas que ela, com o coração na boca, sabia cada frase, cada palavra que seguia.
O mês do cachorro louco seguiu, acabou, mas o coração ainda quase saía pela boca, e a certeza de que algo aconteceria e sua vida modificaria para sempre.
Mudou, mas ainda hoje, anos depois, seu coração ainda quase sai pela boca, como aconteceu em todos os seguintes 15 de agosto.